Manaus, AM
Criada a Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária
Secretaria de Comunicação
Seg, 22 de Março de 2010 17:55
No dia 11 de março foi lançada, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, a Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária. Estiveram presentes no evento João Pedro Stedile, do MST, e os jornalistas Rodrigo Vianna e Paulo Henrique Amorim. Entre os resultados do evento está a criação de um blog (http://www.reformaagraria.blog.br) e do manifesto abaixo, assinado por pessoas presentes na ocasião:
Manifesto
Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.
Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.
A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.
Trata-se de grave distorção.
Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.
No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...
A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.
Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.
A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.
Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.
Venha refletir com a gente:
- por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?
- como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
- como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?
É o convite que fazemos a você.
Assinam: - Alcimir do Carmo.- Altamiro Borges.- Ana Facundes.- André de Oliveira.- André Freire.
- Antonio Biondi.- Antonio Martins.- Bia Barbosa.- Breno Altman.- Conceição Lemes.- Cristina Charão.- Cristovão Feil.- Danilo Cerqueira César.- Dênis de Moraes.- Emiliano José.- Emir Sader.- Flávio Aguiar.- Gilberto Maringoni.- Giuseppe Cocco.- Hamilton Octavio de Souza.- Henrique Cortez.- Igor Fuser.- Jerry Alexandre de Oliveira.- Joaquim Palhares.- João Brant.- João Franzin.- Jonas Valente.- Jorge Pereira Filho.- José Arbex Jr.- José Augusto Camargo.- José Carlos Torves.- José Reinaldo de Carvalho.- José Roberto Mello.- Ladislau Dowbor.- Laurindo Lalo Leal Filho.- Leonardo Sakamoto.- Lilian Parise.- Lúcia Rodrigues.- Luiz Carlos Azenha.- Márcia Nestardo.- Marcia Quintanilha.- Maria Luisa Franco Busse.- Mario Augusto Jacobskind.- Miriyám Hess.- Nilza Iraci.- Otávio Nagoya.- Paulo Lima.- Paulo Zocchi.- Pedro Pomar.- Rachel Moreno.- Raul Pont.- Renata Mielli.- Renato Rovai.- Rita Casaro.- Rita Freire.- Rodrigo Savazoni.- Rodrigo Vianna.- Rose Nogueira.- Rubens Corvetto.- Sandra Mariano.- Sérgio Caldieri.- Sérgio Gomes.- Sérgio Murilo de Andrade.- Soraya Misleh.- Tatiana Merlino.- Terezinha Vicente.- Vânia Alves.- Venício A. de Lima.- Verena Glass.- Vito Giannotti.- Wagner Nabuco.
(publicado originalmente no site do PSOL (psol.org.br)
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