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4 de mar. de 2024

Sobre a cultura no interior do Amazonas: não nos caem nem as migalhas.

 Sobre a cultura no interior do Amazonas: não nos caem nem as migalhas.

Nos meandros da vastidão verde que é o Amazonas, há um clamor silencioso, mas pulsante, por equipamentos culturais nos municípios do interior. Uma demanda que não se traduz apenas em uma busca por entretenimento, mas sim em um grito por reconhecimento, inclusão e desenvolvimento humano. Como produtor cultural, com raízes na biblioteconomia e museologia, não posso ignorar a importância vital de expandir a oferta cultural para além dos limites de Manaus, a capital que, por décadas, absorveu toda a atenção e recursos culturais do estado. A instalação de bibliotecas, museus e espaços culturais nos municípios do interior do Amazonas não é apenas uma necessidade, mas um imperativo moral e político. É uma questão de justiça social e de garantia dos direitos fundamentais de cidadania. Enquanto Manaus se tornou o epicentro cultural do estado, os municípios do interior foram relegados à margem, privados do acesso às riquezas de conhecimento, arte e história que esses equipamentos podem proporcionar. No âmbito da política nacional de bibliotecas, é essencial promover a descentralização e democratização do acesso à informação e ao conhecimento. Isso significa não apenas construir bibliotecas nos municípios do interior, mas também garantir que esses espaços sejam bem equipados, com acervos atualizados e profissionais capacitados para promover atividades educativas e culturais. Da mesma forma, a política nacional de museus demanda a ampliação da rede museológica para além das fronteiras urbanas. Os municípios do interior do Amazonas possuem uma riqueza cultural e histórica ímpar, que merece ser preservada e compartilhada com as gerações presentes e futuras. A instalação de museus locais pode fortalecer a identidade cultural das comunidades, estimular o turismo sustentável e promover o desenvolvimento econômico e social da região. No contexto mais amplo da política nacional de cultura, é preciso reconhecer que a cultura não é um luxo, mas sim um direito humano fundamental. Todos os cidadãos, independentemente de sua localização geográfica, têm o direito de acessar e participar das diversas manifestações culturais que enriquecem nossa sociedade. Negar esse direito aos moradores do interior do Amazonas é perpetuar desigualdades históricas e limitar o potencial criativo e intelectual de toda a nação. É inaceitável que, até hoje, todos os equipamentos culturais do Amazonas estejam concentrados em Manaus, enquanto os municípios do interior são deixados à própria sorte, lutando para sobreviver em um ambiente de escassez cultural. Anota-se que nem "as migalhas da mesa dos senhores" caem ao chão para que os interioranos possam se alimentar de cultura. Aos interioranos do Amazonas ainda somente lhes são permitidos a farinha, o peixe e água barrenta. Eles merecem mais do que isso. Merecem uma refeição completa, abundante em conhecimento, arte e beleza. A urgência de solucionar essa disparidade não pode ser subestimada. Não se trata apenas de corrigir uma injustiça histórica, mas também de investir no futuro do Amazonas e de sua gente. Ao dotar os municípios do interior com equipamentos culturais de qualidade, estamos investindo no desenvolvimento do espírito humano, na promoção da educação e na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. É hora de garantir o direito à isonomia de tratamento entre a capital e o interior, o direito à cultura e o direito ao desenvolvimento integral de todos os cidadãos do Amazonas. É hora de alimentar não apenas o corpo, mas também a alma das comunidades do interior, para que possam florescer em toda a sua diversidade e plenitude. Que cada município do Amazonas se torne um oásis cultural, onde a criatividade e o conhecimento possam prosperar, independentemente de sua localização geográfica.

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