Não é bem assim, mas leiam a notícia.
(de A Critica)
Uma
certa ansiedade pode ser sentida nas esquinas movimentadas e
esburacadas de Tefé, município localizado na região do Médio Solimões,
a pouco mais de 575 quilômetros de Manaus. Desde que a Petrobras e a
HRT O&G iniciaram as buscas por campos de petróleo e gás nas terras
da região, população se alvoroçou. Ao que tudo indica, Tefé é a “bola
da vez” da indústria petrolífera na Amazônia e todos estão de olho
nessa riqueza. Todos.
A
“boa nova” do petróleo pegou Tefé de surpresa. A economia do município
de pouco mais de 61 mil habitantes vivia um momento de estagnação
econômica minimizada apenas pelos programas sociais do Governo Federal.
Apesar de ser uma cidade considerada polo para os demais localizadas na
região do Médio Solimões, o que sempre lhe rendeu um comércio vibrante,
Tefé não difere muito do padrão dos demais municípios amazônicos:
população majoritariamente pobre e economia baseada no extrativismo e
nos recursos provenientes das folhas de pagamento da prefeitura e do
Governo do Estado. Por isso, a notícia de que poderia haver petróleo em
Tefé mexeu tanto com a cidade.
No
final de 2010, a HRT O&G aportou na cidade levando consigo
toneladas de equipamentos e uma quantidade intangível de esperança.
Concessionária de 21 blocos de exploração na Bacia Sedimentar do
Solimões, ela iniciou em 2011 sua campanha de pesquisa e contratou
centenas de trabalhadores da região, dando um novo gás para a combalida
economia do município. O maior hotel da cidade foi inteiramente alugado
para a empresa por tempo indeterminado. Os demais passaram a ficar
constantemente lotados. O aeroporto de Tefé recebeu uma base da Air
Amazônia, companhia aérea criada pela HRT Participações (controladora
da holding) exclusivamente para suprir as necessidades de transporte e
logística da petrolífera.
Aposta empresarial
Impressionados
pela movimentação, empresários locais decidiram aproveitar o momento. A
construção civil tomou impulso e dezenas de apartamentos foram
construídos na esperança de que um dia seriam alugados pelos
funcionários da companhia ou das prestadoras de serviço. Placas de
“aluga-se” estão por todos os lugares. De repente, a terra da castanha
se transformou na terra do petróleo. “A gente percebeu um grande número
de empresários investindo em imóveis para acomodar o pessoal das
empresas e em embarcações para aluguel. É como a gente vê em garimpo. A
‘fofoca’ é muito grande”, diz Paulo de Oliveira Lima, 41,
vice-presidente da Associação Comercial de Tefé.
Aposta pessoal
Josué Souza da Silva, 29, é um dos que apostou todas as suas fichas no
ouro negro da Amazônia. Desde que foi dispensado pelo Exército, em
2008, ele usou suas economias para comprar um caminhão com o qual fazia
o transporte de cargas. Em 2011, trocou o veículo por uma van e assinou
um contrato com a HRT para fazer o transporte dos seus funcionários
pela cidade. Há um mês e meio, pediu a namorada em casamento e espera
que a cerimônia ocorra ainda este ano. Empolgado, torce que a bonança
trazida pelas petrolíferas tenha longa duração. “No município não tem
nada para fazer. Ou você trabalha para a prefeitura ou não tem emprego.
Graças a Deus essa empresa chegou para movimentar as coisas aqui”, diz
Josué.
Tefé: População: 61.453Área: 23.704,488 Km²
Distância: a 523 quilômetros de Manaus em linha reta ou a 631 quilômetros por via fluvial
PIB: R$ 293 milhões
IDH-M: 0, 663
Poço encontrado é um ‘elefante’ na produção
As
perspectivas para a indústria petrolífera em Tefé são, realmente,
promissoras. A HRT O&G já perfurou sete poços e encontrou acúmulos
de gás e petróleo em pelo menos quatro deles. A Petrobras, que há
alguns anos vinha mantendo seus investimentos apenas na região do rio
Urucu, recentemente aumentou suas atividades no município.
Apesar
de concentrar boa parte de suas operações em Tefé, os resultados
obtidos pela HRT O&G ainda inspiram desconfiança tanto em seus
investidores quanto na população local. Isso porque as jazidas
encontradas não foram consideradas rentáveis. Por outro lado, a
prospecção da Petrobras já causa furor no mercado petrolífero.
Em
novembro de 2011, a estatal anunciou a descoberta de um poço conhecido
como Igarapé Chibata com produção média de 2,2 mil a 2,5 mil barris de
petróleo diários. Em março de 2012, a Petrobras anunciou um novo poço,
batizado como Leste de Chibata, com produção média diária de 1,4 mil
barris de petróleo e 45 mil metros cúbicos de gás natural. Em ambos os
casos, a estatal afirma que a produção dos poços é superior à média
nacional obtida em poços terrestres.
Os
executivos da companhia não se manifestam publicamente sobre as novas
descobertas, entretanto, uma analogia é comumente utilizada entre os
envolvidos na campanha exploratória do Solimões para descrever as novas
descobertas: se Urucu é o “rabo”, Chibata é o elefante.
Royalties na mira
A
perspectiva de riqueza no curto e médio prazos mexeu com a sociedade
local. Um fórum comunitário, com participação da sociedade civil e das
autoridades locais já foi criado para discutir o que será feito com o
dinheiro dos royalties que o petróleo deverá gerar para o município.
“Sem dúvida, a descoberta de que existe petróleo na região é uma boa
notícia para a população que há muito tempo vinha vivendo sem
esperança. A questão é como o essa riqueza será percebida pelo povo”,
diz o bispo da Prelazia de Tefé, Sérgio Eduardo Castriani.
O
prefeito, Juscimar Veloso (PMDB), que assumiu o cargo depois que o
ex-prefeito Sidônio Gonçalves foi cassado, já começou a administrar os
primeiros milhões de reais gerados pela produção de petróleo do Igarapé
Chibata. Ele sabe que as perspectivas são otimistas e que o município
terá de se preparar, sobretudo, institucionalmente, para administrar
bem a nova riqueza. “A nossa ideia é usar esses recursos para melhorar
a educação e estimular o setor primário, mas ainda é cedo para
comemorar, embora a vontade seja grande”, afirma.
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